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05/08/2016

KARDEC News | 2016 - Do Projeto de Caixa Geral de Socorro para os Espíritas

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Categoria KARDEC News
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Revista Espírita - Julho / 1886

Nos grupos espíritas de Paris, um médium recebeu recentemente a comunicação seguinte, do Espírito de sua avó: “Meu caro filho, vou falar-te um instante das questões de caridade que te preocuparam esta manhã, indo para o trabalho”.

"As crianças que são entregues a amas de leite mercenárias; as mulheres pobres que são forçadas, com desprezo do pudor que lhes é caro, a servir, nos hospitais, de matéria experimental aos médicos e aos alunos de medicina, são duas grandes feridas que todos os bons corações devem se aplicar em curar, e isto não é impossível; que os Espíritas façam como os católicos, que se impõem soldos semanais e que capitalizem esses recursos, e chegarão a fundações sérias, grandes e verdadeiramente eficazes. A caridade que alivia o mau presente é uma caridade santa que encorajo com todas as minhas forças; mas a caridade que se perpetua nas fundações imortais como as misérias que ela está destinada a aliviar, está aí uma caridade inteligente e que ficarei feliz em ver posta em prática.

Gostaria que um trabalho fosse elaborado que tivesse por objetivo criar de início um primeiro estabelecimento em proporções restritas. Quando se tivesse visto o bom resultado dessa primeira criação, passar-se-ia a uma outra, e se a aumentaria pouco a pouco como Deus quer que se a aumente, porque o progresso se realiza por uma marcha lenta, sábia, calculada. Repito que o que proponho não é difícil; não haveria um único espírita verdadeiro que ousasse faltar ao chamado para o alívio de seus semelhantes, e os Espíritas são bastante numerosos para formarem, pela acumulação do dinheiro semanal, um capital suficiente para um primeiro estabelecimento para o uso das mulheres doentes, que seriam cuidadas por mulheres, e que deixariam então de esconder seu sofrimento para salvar seu pudor.

Entrego estas reflexões às meditações das pessoas benevolentes que assistem à sessão, e estou bem convencido que elas levarão bons frutos. Os grupos de províncias se reuniriam prontamente a uma ideia tão bela, e ao mesmo tempo tão útil e tão paternal; esse seria, aliás, um monumento do valor moral do Espiritismo tão caluniado, e que o será por muito tempo ainda com obstinação.

Eu disse, a caridade local é boa, ela aproveita a um indivíduo, mas não eleva o espírito das massas como uma obra durável. Não seria belo que se pudesse repelir a calúnia dizendo aos caluniadores: Eis o que fizemos. A árvore se reconhece pelo fruto; uma árvore má não dá bons frutos, e uma boa árvore não os dá maus.

Pensai também nas pobres crianças que saem dos hospitais, e que vão morrer entre mãos mercenárias, dois crimes ao mesmo tempo: o de entregar a criança desarmada e fraca, e o crime daquele que a sacrifica sem piedade. Que todos os corações elevem seus pensamentos para as tristes vítimas da sociedade imprevidente, e que tratem de encontrar uma boa solução para salvá-los de suas misérias. Deus quer que se tente, e dá os meios de chegar, é preciso agir; triunfa-se quando se tem a fé, e a fé transporta as montanhas. Que o Sr. Kardec trate da questão em seu jornal, e vereis como será aclamada com arrebatamento e entusiasmo.

Eu disse que seria preciso um monumento material que atestasse a fé dos Espíritas, como as pirâmides do Egito atestam a vaidade dos Faraós; mas, em lugar de fazer loucuras, fazei obras que levem a marca do próprio Deus. Todo o mundo deve me compreender, não insisto mais.

"Retiro-me, meu caro filho; tua avó, como tu o vês, ama sempre suas criancinhas, como te amou quando eras pequenino. Quero que as ame como eu, e penses em encontrar uma boa organização; tu o podes se tu o queres, e, se for preciso, te ajudaremos. Eu te abençoo.
Marie G...

A ideia de uma caixa central e geral de socorro formada entre os Espíritas já foi concebida e emitida por homens animados de excelentes intenções; mas não basta que uma ideia seja grande, bela e generosa, é preciso antes de tudo que ela seja praticada. Temos, certamente, dado bastante provas de nosso devotamento à causa do Espiritismo para não ser suspeito de indiferença a esse respeito; ora, é precisamente em consequência de nossa própria solicitude que procuramos nos pôr em guarda contra o entusiasmo que cega; antes de empreender uma coisa, é preciso calcular-lhe friamente o pró e o contra, a fim de evitar fracassos sempre deploráveis, que não deixariam de ser explorados por nossos adversários. O Espiritismo não deve caminhar senão com segurança, e quando põe o pé em alguma parte, deve estar seguro de ali encontrar um terreno sólido. A vitória não é sempre do mais apressado, mas mais seguramente daquele que sabe esperar o momento propício. Há resultados que não podem ser senão a obra do tempo e da infiltração da ideia no espírito das massas; saibamos, pois, esperar que a árvore esteja formada, antes de lhe pedir uma abundante colheita.

Há muito tempo nos propusemos tratar afundo a questão da qual se trata, para colocá-la sobre o seu verdadeiro terreno, e premunir contra as ilusões de projetos mais generosos do que refletidos e cujo abortamento teria consequências deploráveis. A comunicação relatada acima, e sobre a qual consentiram em nos pedir a nossa opinião, disto nos fornece a ocasião muito natural. Examinaremos, pois, seja o projeto de centralização dos recursos, seja o de algumas outras instituições e estabelecimentos especiais para o Espiritismo.

Antes de tudo, convém dar-se conta do estado real das coisas. Os Espíritas, sem dúvida, são muito numerosos, e seu número cresce sem cessar: sob esse aspecto oferece um espetáculo único, o de uma propagação estranha na história das doutrinas filosóficas, porque não há nenhuma delas, sem disto excetuar o Cristianismo, que tenha reunido tantos partidários em um pequeno número de anos; este é um fato notório que confunde seus próprios antagonistas. E, o que não é menos característico, é que essa propagação, em lugar de se fazer em torno de um centro único, se opera simultaneamente sobre toda a superfície do globo e em milhares de centros. Disto resulta que os adeptos, mesmo sendo muito numerosos, não formam ainda em nenhuma parte uma aglomeração compacta.

Essa dispersão que, à primeira vista, parece uma causa de fraqueza, ao contrário, é um elemento de força. Cem mil Espíritas disseminados sobre a superfície de uma país fazem mais para a propagação da ideia do que se estivessem condensados numa cidade; cada individualidade é um foco de ação, um germe que produz rebentos; cada rebento produzindo-os ao seu turno mais ou menos, cujos ramos se reunindo pouco a pouco, cobrirão o país mais prontamente do que se a ação não partisse senão de um único ponto; é absolutamente como se um punhado de grãos fosse lançado ao vento, em lugar de estarem colocados todos juntos na mesma cova. Por essa multidão de pequenos centros, além disso, a Doutrina é menos vulnerável do que se ela não tivesse senão um contra o qual seus inimigos poderiam dirigir todas as suas forças. Um exército primitivamente compacto que é dispersado pela força ou outra causa, é um exército perdido; aqui o caso é muito diferente: a disseminação dos Espíritas não é o fato de uma dispersão, é o estado primitivo tendendo à concentração para formar uma grande unidade; a primeira está em seu fim, a segunda em seu nascimento.

Àqueles, pois, que se lamentam de seu isolamento em uma localidade, respondemos: Agradecei ao céu, ao contrário, de vos ter escolhido pelos primeiros pioneiros da obra em vossa região. Cabe a vós lançar as primeiras sementes; talvez não germinarão logo em seguida; talvez delas não venhais a recolher os frutos; talvez mesmo tenhais de sofrer em vosso labor, mas pensai que não se roça uma terra sem trabalho, e estejais seguros de que cedo ou tarde, o que tiverdes semeado, frutificará; quanto mais a tarefa for ingrata, mais tereis mérito, não tereis mais que fazer senão abrir o caminho àqueles que virão depois de vós.

Sem dúvida, se os Espíritas devessem sempre permanecer no estado de isolamento, isto seria uma causa permanente de fraqueza; mas a experiência prova a que ponto a Doutrina é vivaz, e sabe-se que, para um ramo abatido, há deles dez que renascem. Sua generalização, portanto, é uma questão de tempo; ora, por rápida que seja sua marcha, ainda é preciso o tempo necessário, e tudo trabalhando na obra, é preciso saber esperar que o fruto esteja maduro antes de colhê-lo.
Essa disseminação momentânea dos Espíritas, essencialmente favorável à propagação da Doutrina, é um obstáculo para a execução de obras coletivas de uma certa importância, pela dificuldade, senão mesmo pela impossibilidade, de reunir sobre um mesmo ponto os elementos tão numerosos.

É precisamente, dir-se-á, para obviar este inconveniente, para estreitar os laços de confraternidade entre os membros isolados da grande família espírita, que se propôs a criação de uma caixa central de socorro. Certamente, aí está um pensamento grande e generoso que seduz à primeira vista; mas refletiu-se nas dificuldades da execução?
Uma primeira questão se apresenta. Até onde se estenderia a ação desta caixa?

Seria ela limitada à França, ou compreenderia outros países? Há Espírita sobre todo o globo; é que aqueles de todos os países, de todas as castas, de todos os cultos, não são nossos irmãos? Se, pois, a caixa recebesse os donativos de Espíritas estrangeiros, o que ocorreria infalivelmente, teria ela o direito de limitar sua assistência a uma única nacionalidade? Poderia ela conscienciosamente e caridosamente, perguntar àquele que sofre, se é Russo, Polonês, Alemão, Espanhol, Italiano ou Francês? A menos de faltar ao seu título, ao seu objetivo, ao seu dever, ela deveria estender sua ação do Peru até a China. Basta pensar na complicação das engrenagens de um tal empreendimento para ver o quanto é quimérico.

Suponhamo-lo circunscrito à França, ele não seria menos uma administração colossal, um verdadeiro ministério. Quem gostaria de assumir a responsabilidade de tal administração de fundos? Para uma gestão dessa natureza, a integridade e o devotamento não bastariam, seria preciso uma alta capacidade administrativa.

Admitamos, no entanto, as primeiras dificuldades vencidas, como exercer um controle eficaz sobre a extensão e a realidade das necessidades, sobre a sinceridade da qualidade de Espíritas? Semelhante instituição veria logo adeptos, ou supostamente tais, surgir por milhões, mas não seriam aqueles que alimentariam a caixa. Do momento que ela existisse, se a creria inesgotável, e ela se veria logo na impossibilidade de satisfazer a todos as exigências de seu mandato. Fundada sobre uma tão vasta escala, consideramo-la como impraticável, e, por nossa conta pessoal, não lhe daríamos a mão.
Não teria ela a temer, além disso, encontrar oposição em sua própria constituição?

O Espiritismo apenas nasceu, e não está ainda por toda a parte de tal modo em odor de santidade que esteja ao abrigo das suposições malévolas, não poderiam equivocar-se sobre suas intenções numa operação desse gênero; supor que, sob um manto, ele esconde outro objetivo; em uma palavra, das assimilações das quais se desculpariam seus adversários, para excitar a desconfiança contra ele? O Espiritismo, por sua natureza, não é, não pode ser nem uma afiliação, nem uma congregação; ele deve, pois, em seu próprio interesse, evitar tudo o que disso tiver a aparência.
É preciso, pois, que, por medo, o Espiritismo permaneça estacionário?

Não é em agindo, dir-se-á, que mostrará o que é, que dissipará as desconfianças e frustrará a calúnia? Sem nenhuma dúvida, mas não é preciso pedir à criança o que exige as forças da idade viril. Longe de servir ao Espiritismo, isso seria comprometê-lo e oferecê-lo aos golpes ou à zombaria de seus adversários, senão misturar seu nome a coisas quiméricas. Certamente, ele deve agir, mas no limite do possível. Deixemos-lhe, pois, o tempo de adquirir as forças necessárias, e então dará mais do que se crê. Ele não está mesmo ainda completamente constituído em teoria; como se quer que dê o que não pode ser senão o resultado do complemento da doutrina?

Aliás, há outras considerações às quais importa levar em conta.

O Espiritismo é uma crença filosófica, e basta simpatizar com os princípios fundamentais da Doutrina para ser Espírita. Falamos de Espíritas convictos e não daqueles que deles tomam a máscara, por motivos de interesse ou outros também pouco confessáveis; aqueles não fazem número: entre eles não há nenhuma convicção; dizem-se Espíritas hoje, pela esperança de aí encontrar suas vantagens; serão adversários amanhã, se não encontrarem o que procuram; ou bem se colocarão como vítimas de seu devotamento artificial, e acusarão os Espíritas de ingratidão e de não sustentá-los. Não seriam os últimos a explorar a caixa geral, para se levantar de especulações abortadas, ou reparar os desastres causados por sua incúria ou sua imprevidência, e a lhe lançar a pedra se não os satisfaz. Não é preciso se espantar com isto, todas as opiniões contam com semelhantes auxiliares e veem representar semelhantes comédias.

Há também a massa considerável dos Espíritas de intuição; aqueles que o são pela tendência e pela predisposição de suas ideias, sem estudo preliminar; os indecisos, que flutuam ainda esperando os elementos de convicção que lhes são necessários; pode-se, sem exagero, avaliá-los em um quarto da população. É o grande viveiro onde se recrutam os adeptos, mas eles não se contam ainda entre eles.

Entre os Espíritas reais, aqueles que constituem o verdadeiro corpo dos adeptos, há certas distinções a fazer. Em primeira linha é preciso colocar os adeptos de coração, animados de uma fé sincera, que compreendem o objetivo e a importância da Doutrina, e aceitam-lhe todas as consequências, por si mesmos; seu devotamento é a toda prova e sem dissimulação; os interesses da causa, que são os da Humanidade, lhes são sagrados, e jamais os sacrificarão por uma questão de amor-próprio ou de interesse pessoal; para eles o lado moral não é uma simples teoria: esforçam-se em pregar pelo exemplo; não têm somente a coragem de sua opinião: disto se fazem glória, e sabem, se necessário, pagar com a sua pessoa.

Vêm em seguida aqueles que aceitam a ideia, como filosofia, porque ela satisfaz sua razão, mas cuja fibra moral não é suficientemente tocada para compreender as obrigações que a Doutrina impõe àqueles que a assimilam. O homem velho está sempre aí, e a reforma de si mesmo lhe parece uma tarefa muito pesada; mas como eles não estão menos firmemente convencidos, e se encontram entre eles propagadores e defensores zelosos.

Depois, há pessoas levianas para quem o Espiritismo está inteiramente nas manifestações; para elas é um fato, e nada mais; o lado filosófico passa despercebido; o atrativo da curiosidade é seu principal motivo, extasiam-se diante de um fenômeno, e permanecem frias diante de uma consequência moral.

Há, enfim, um número ainda muito grande dos Espíritas mais ou menos sérios que não puderam se colocar acima dos preconceitos e de quem dir-se-á que o medo do ridículo retém; aqueles que as considerações pessoais ou de família, dos interesses frequentemente respeitáveis a manejar, forçam de alguma sorte a se manterem afastados; todos aqueles, em uma palavra, que, por uma causa ou por uma outra, boa ou má, não se colocam em evidência. A maioria não pediria mais do que se confessar, mas não ousam ou não o podem; isto virá mais tarde, à medida que virem os outros fazê-lo e que não há perigo; serão os Espíritas do dia seguinte, como outros são os da véspera. No entanto, não se pode zangar-se com eles, porque precisam de uma força de caráter que não é dada a todo o mundo, para desafiar a opinião em certos casos. É preciso, pois, considerar a fraqueza humana; o Espiritismo não tem o privilégio de transformar subitamente a Humanidade, e se se pode admirar de uma coisa, é do número das reformas já operadas em tão pouco tempo. Ao passo que em uns, onde encontra o terreno preparado, ele entra por assim dizer de uma só vez, em outros não penetra senão gota a gota, segundo a resistência que encontra no caráter e nos hábitos.

Todos esses adeptos contam no número, e por imperfeitos que sejam, são sempre úteis, embora no limite restrito. Não servindo, até nova ordem, senão para diminuir as classes da oposição, isto já seria alguma coisa; é porque não é preciso desdenhar nenhuma adesão sincera, mesmo parcial.

Mas quando se trata de uma obra coletiva importante, onde cada um deve levar seu contingente de ação, como seria a de uma caixa geral, por exemplo, convém fazer entrar essas considerações em linha de conta, porque a eficácia do concurso que se pode esperar está em razão da categoria à qual pertencem os adeptos. É muito evidente que não se pode fazer grande fundo sobre aqueles que não tomam a peito o lado moral da Doutrina, e ainda menos sobre aqueles que não ousam se mostrar.

Restam, pois, os adeptos da primeira categoria; destes, certamente, pode-se tudo esperar, são os soldados da vanguarda, e que, frequentemente, não esperam o chamado quando se trata de dar prova de abnegação e de devotamento; mas, numa cooperação financeira, cada um aí contribui segundo seus recursos e o pobre não pode dar senão o seu óbolo. Aos olhos de Deus, esse óbolo tem um grande valor, mas para as necessidades materiais não tem senão seu valor intrínseco. Diminuindo todos aqueles cujos meios de existência são limitados, aqueles que, eles mesmos, vivem do dia-a-dia de seu trabalho, o número daqueles que poderiam contribuir um pouco largamente e de maneira eficaz é relativamente restrito.

Uma observação, ao mesmo tempo interessante e instrutiva é a da proporção dos adeptos segundo as categorias. Essa proporção é sensivelmente variada, e se modifica em razão dos progressos da Doutrina; mas neste momento ela pode ser aproximadamente avaliada da maneira seguinte:

1ª- categoria, Espíritas completos de coração e de devotamento, 10 sobre 100 adeptos;
2ª- categoria, Espíritas incompletos, procurando mais o lado científico do que o lado moral, 25 sobre 100;
3ª- categoria, Espíritas levianos, não se interessando senão pelos fatos materiais, 5 sobre 100 (esta proporção era inversa há dez anos);
4ª- categoria, Espíritas não confessados ou que se escondem 60 sobre 100.

Relativamente à posição social, podem-se fazer duas classes gerais: de uma parte, aqueles cuja fortuna é independente; de outra, aqueles que vivem de seu trabalho. Sobre 100 Espíritas da primeira categoria, há, em média, 5 ricos contra 95 trabalhadores; na segunda, 70 ricos e 30 trabalhadores; na terceira, 80 ricos e 20 trabalhadores; na quarta, 99 ricos e 1 trabalhador.

Seria, pois, iludir-se crendo que em tais condições uma caixa geral pudesse satisfazer a todas as necessidades, então que a do mais rico banqueiro para isto não bastaria; não seriam alguns milhares de francos que seriam necessários cada ano, mas milhões.
De onde vem essa diferença na proporção dos ricos e daqueles que não o são? A razão disto é bem simples; os aflitos encontram no Espiritismo uma imensa consolação que os ajuda a suportar o fardo das misérias da vida; dá-lhes a razão dessas misérias e a certeza de uma compensação. Não é, pois, surpreendente que, gozando mais do benefício, eles o apreciem mais e o tomem mais a peito do que os felizes do mundo.

Admira-se que, quando semelhantes projetos foram levados adiante, não nos tenhamos apressado em apoiá-los e patrociná-los; é que, antes de tudo, prendemo-nos às ideias positivas e práticas; o Espiritismo é para nós uma coisa muito séria para empenha-lo, prematuramente, nos caminhos onde poderia encontrar decepções. Não há aí, de nossa parte, nem descuido, nem pusilanimidade, mas prudência e todas as vezes que estiver maduro para ir adiante, não permaneceremos atrás. Não é que nos atribuamos mais perspicácia do que aos outros; mas nossa posição nos permitindo ver o conjunto, podemos julgar o forte e o fraco melhor talvez do que aqueles que se encontram no círculo mais restrito. De resto, damos a nossa opinião, e não entendemos impô-la a ninguém.

O que vem de ser dito a respeito da criação de uma caixa geral e central de socorros, se aplica naturalmente aos projetos de fundação de estabelecimentos hospitalares e outros; ora, aqui, a utopia é mais evidente ainda. Se é fácil lançar um plano sobre um papel, não o é mais, do mesmo modo, quando se chega aos caminhos e meios de execução. Construir um edifício ad hoc, é já enorme, e quando estivesse feito, seria preciso provê-lo de um pessoal suficiente e capaz, depois assegurar a sua manutenção, porque tais estabelecimentos custam muito e não trazem nada. Não são somente grandes capitais que são necessários, mas grandes rendas. Admitamos, no entanto, que à força de perseverança e de sacrifícios chegue-se a criar, como foi dito, um pequeno modelo, quanto mínimas seriam as necessidades às quais poderia satisfazer, com relação à massa e à disseminação dos necessitados sobre um vasto território! Seria uma gota d'água no rio, e, se há tantas dificuldades para um só, mesmo numa pequena escala, seria pior tratando-se de multiplicá-los. O dinheiro assim empregado não aproveitaria, pois, em realidade, senão à alguns indivíduos, ao passo que, judiciosamente repartidos, ajudaria a um grande número de infelizes a viver.

Esse seria um modelo, um exemplo, seja; mas por que tentar criar quimeras, quando as coisas existem inteiramente feitas, todas montadas, organizadas, com os meios mais poderosos dos quais jamais possuirão os particulares? Esses estabelecimentos deixam a desejar; há abusos; não respondem a todas as necessidades, isto é evidente, e, no entanto, comparando-os com aqueles que eram a menos de um século, constata-se uma imensa diferença e um progresso constante; cada dia se vê introduzir alguma melhoria.

Não se poderia, pois, duvidar que, com o tempo, novos progressos se realizarão pelas forças das coisas. As ideias espíritas, infalivelmente, devem apressar a reforma de todos os abusos, porque, melhor do que as outras, elas penetram os homens do sentimento de seus deveres; por toda a parte onde elas se introduzirem, os abusos tombarão e o progresso se realizará. É, pois, a difundi-las que é preciso se apegar: aí está a coisa possível e prática, aí está a verdadeira alavanca, alavanca irresistível quando tiver adquirido uma força suficiente para o desenvolvimento completo dos princípios e do número dos adeptos sérios. Julgando o futuro pelo presente, pode-se afirmar que o Espiritismo terá levado à reforma de muitas coisas antes que os Espíritas tenham podido acabar o primeiro estabelecimento do gênero daqueles que falamos, se jamais o empreendessem, devessem mesmo todos dar uma moeda por semana. Por que, pois, usar suas forças em esforços supérfluos, em lugar de concentrá-las sobre o ponto acessível e que deve levar seguramente ao objetivo? Mil adeptos ganhados para a causa e distribuídos em mil lugares diversos, apressarão mais a marcha do progresso do que um edifício.

O Espiritismo, disse o Espírito que ditou a comunicação acima, deve se afirmar e mostrar o que é por um monumento durável levantado à caridade. Mas de que serviria um monumento à caridade, se a caridade não está no coração? Ele o eleva um mais durável do que um monumento de pedra: é a Doutrina e suas consequências para o bem da Humanidade. É por aquele que cada um deve trabalhar com todas as suas forças, porque ele durará mais do que as pirâmides do Egito.

De que esse Espírito se engane, em nossa opinião, sobre esse ponto, isto não lhe rouba nada de suas qualidades; está incontestavelmente animado de excelentes sentimentos; mas um Espírito pode ser muito bom, sem ser um apreciador infalível de todas as coisas; todo bom soldado, necessariamente, não é um bom general.

Um projeto de uma realização menos quimérica é o da formação de sociedade de socorros mútuos entre os Espíritas de uma mesma localidade; mais ainda aqui não se pode escapar de algumas das dificuldades que assinalamos: a falta de aglomeração, e o número ainda restrito daqueles com os quais se pode contar por um concurso efetivo.

Uma outra dificuldade vem da falsa assimilação que se faz dos Espíritas e de certas classes de indivíduos. Cada profissão apresenta uma delimitação nitidamente traçada; pode-se facilmente estabelecer uma sociedade de socorros mútuos entre pessoas de uma mesma profissão, entre as de um mesmo culto, porque se distinguem por alguma coisa de característica, e por uma posição de alguma sorte oficial e reconhecida; não é assim com os Espíritas, que não são registrados em nenhuma parte como tais, e dos quais nenhum diploma constata a crença; há-os, em todas as classes da sociedade, em todas as profissões, em todos os cultos, e em nenhuma parte constituem uma classe distinta. Sendo o Espiritismo uma crença fundada sobre uma convicção íntima da qual não deve conta a ninguém, não se conhece quase senão aqueles que se colocam em evidência ou frequentem os grupos, e não o número de outro modo considerável daqueles que, sem se esconderem, não fazem parte de nenhuma reunião regular. Eis porque, apesar da certeza que se tem de que os adeptos são numerosos, frequentemente, é difícil chegar a uma cifra suficiente quando se trata de uma operação coletiva.

Com relação às sociedades de socorros mútuos, apresenta-se outra consideração. O Espiritismo não forma e não deve formar classe distinta, uma vez que se dirige a todo o mundo; por seu próprio princípio ele deve estender a sua caridade indistintamente, sem perguntar da crença, porque todos os homens são irmãos; se funda instituições de caridade exclusivas para os adeptos, é forçado a dizer àquele que reclama assistência: "Sois dos nossos, e que prova disto dais? Senão, nada podemos por vós."

Mereceria, assim, a censura de intolerância que se dirige a outros. Não, para fazer o bem, o Espírita não deve procurar na consciência e na opinião, e tendo diante dele um inimigo de sua fé infeliz, deve vir-lhe em ajuda no limite de suas faculdades. Será agindo assim que o Espiritismo mostrará o que é, e provará que vale mais do que aquilo que lhe opõem.

As sociedades de socorros mútuos se multiplicam de todos os lados e em todas as classes de trabalhadores. É uma excelente instituição, prelúdio do reino da fraternidade e da solidariedade do qual sente-se a necessidade; elas aproveitam os Espíritas que dela fazem parte, como em todo o mundo; por que, pois, a fundariam só para eles, de onde os outros seriam excluídos? Que ajudem a propagá-las, uma vez que são úteis; que, para torná-las melhores, façam nela penetrar o elemento espírita nela entrando eles mesmos, isto será mais aproveitável para eles e para a Doutrina. Em nome da caridade evangélica inscrita em sua bandeira, em nome dos interesses do Espiritismo, os adjuramos para evitar tudo o que pode estabelecer uma barreira entre eles e a sociedade. Quando o progresso moral tende a baixar aquelas mesmas que dividem os povos, o Espiritismo não deve levantá-las; sua essência é de penetrar por toda a parte; sua missão, de melhorar tudo que existe; ele faliria se se isolasse.

A beneficência deve, pois, permanecer individual, e, neste caso, sua ação não é mais limitada senão se ela é coletiva? A beneficência coletiva tem incontestáveis vantagens, e muito longe de dela nos afastar, nós a encorajamos. Nada é mais fácil do que praticá-la nos grupos, recolhendo por meio de cotizações regulares, ou de donativos facultativos, os elementos de um fundo de socorro; mas, então, agindo neste círculo restrito, o controle das verdadeiras necessidades é fácil; o conhecimento que se pode delas ter permite uma partilha mais judiciosa e mais aproveitável; com uma soma módica, bem distribuída e dada a propósito, pode-se prestar mais serviços reais do que com uma grande quantia dada sem conhecimento de causa e, por assim dizer, ao acaso. É, pois, necessário poder se dar conta de certos detalhes, não se querendo esbanjar inutilmente seus recursos; ora, compreende-se que de tais cuidados seriam impossíveis operando-se numa vasta escala; aqui, nada de complicação administrativa, nada de pessoal burocrático; algumas pessoas de boa vontade, e eis tudo.

Não podemos, pois, senão encorajar, com todas as nossas forças, a beneficência coletiva nos grupos espíritas; conhecemo-los em Paris, na Província e no Estrangeiro, que são fundados, se não exclusivamente, pelo menos principalmente com esse objetivo, e cuja organização não deixa nada a desejar; ali, os membros devotados vão ao domicílio se informarem dos sofrimentos, e levar o que vale, algumas vezes, mais do que os socorros materiais: as consolações e os encorajamentos.

Honra a eles, porque merecem bem o Espiritismo! Que cada grupo agisse assim em sua esfera de atividade, e todos juntos realizarão melhor do que não o poderia fazer uma caixa central quatro vezes mais rica.



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